Há
alguns meses tenho escrito no Genizah. O convite foi feito pelo meu amigo,
bispo Hermes Fernandes, mas foi o Danilo quem deu o aval final. Neste curto
período, como sou um escritor eclético, falei de quase tudo: doutrina,
filosofia, apologética, escatologia, eclesiologia, e coisas mais... Com um
jeito muito particular, deixei escorrer de dentro de mim farelos de palavras,
coisas que vivo e que vejo, pois no fundo sou um cronista existencial, um
observador do cotidiano, andarilho da vida.
Contudo,
de todos os textos postados, apesar de perceber a generosidade do público em
geral, um em especial me levou a “notoriedade”: “Sexo Entre Jovens: Coando o
Mosquito e Engolindo o Tiranossauro”. Tentando ponderar sobre o tema, acabei
levando tanta “pancada” (risos) que o post hoje é o primeiro lugar
entre os mais esculachados do blog! Fiquei zonzo... Foi “madeira de dar em
doido”.
Aí
eu tomei gosto pelo negócio... Como sou polêmico por natureza, tive uma idéia
que, imagino, vai despertar “paixões” e “repúdios”. Desta vez, contudo, vamos
falar do sexo no casamento e quando ele se torna pecado mesmo respaldado pelo
“contrato” que foi assinado na igreja. Preocupamo-nos tanto com o “sexo antes
do casamento” que, não raro, acabamos esquecendo do sexo no casamento!
Bem,
para falar sobre o tema, de alguma forma, é preciso conceituá-lo. Não sou
especialista no assunto, mas sou praticante há 20 anos (risos). Desta forma,
imagino ter obtido alguma autoridade para discorrer sobre a questão. Além do
mais, tenho ouvido durante décadas casais com os mais diversos tipos de
problemas e conflitos na área sexual, o que se constitui vasto “material” para
utilizar num artigo.
Com
vistas a chegar a algum ponto de “iluminação” da consciência, vou tentar dizer
logo de cara o que não é sexo. Será mais fácil assim. Sexo não é coito, ou
seja, não é o ato em si, com carícias, preâmbulos, penetrações e orgasmo. Os
animais fazem isto, mas não desfrutam da grandiosidade daquilo que Deus
planejou para nós, humanos. Coito, é parte do sexo, mas ainda não é sexo.
Sexo
é encontro de corpo, sim, mas também de alma e de espírito. Sexo é algo muito
mais profundo e complexo do que a grande maioria de nós entende ou usufrui. O
sexo começa no olhar, na sedução, na provocação, no desejo acalentado
pacientemente. Depois ele passa pelas afinidades, complementaridades, pela
admiração, o brilho no olhar, a paquera. Em seguida, vem a questão da
“química”, do cheiro, do gosto, das formas, dos toques. E então, finalmente,
vem a parte espiritual. Sim, sexo é coisa muito espiritual! Aliás, é mais
espiritual do que muitas outras que imaginamos.
Fazer
sexo com pessoas de “outro espírito” é deitar-se com alguém que tem uma
natureza diferente da nossa e isto, obviamente, tem implicações para muito além
do que se pensa ou se vê. Por isso, não à toa, Paulo fala sobre os
desdobramentos deste tipo de sexo feito com a prostituta, ainda que ali o que
ele quer tratar é muito mais sobre o “espírito de prostituição” do que da
prostituta em si. Mas este
tema é por demais complexo e eu falo dele em outra hora...
Se
você quiser aprender alguma coisa boa sobre sexo no casamento, não precisa ler
livros que dão conselhos sobre o tema, sobretudo estes que estão aí nas prateleiras
e que são, na esmagadora maioria, baboseira pura. Faça o seguinte: abra a sua
bíblia e debruce-se sobre o livro de Cantares. Ali está a mais linda poesia
sobre o sexo, com metáforas das mais ousadas e pertinentes que farão um leitor
atento e inteligente, que consiga ir além da “letra”, apropriar-se das
alegorias e, assim, aprender muita coisa bonita e poética para a vida a dois.
Mas
este não é um texto sobre sexo, e sim sobre o fato de se estar casado e fazer
um tipo de sexo que é pecado diante de Deus. Sim, isto é possível e mais comum
do que se imagina. Para entrar de cabeça na questão, vou usar apenas um texto
dos muitos possíveis, pois ele vai me ajudar a pontuar o
assunto.
“Não
se recusem um ao outro, exceto por mútuo consentimento e durante certo tempo,
para se dedicarem à oração. Depois, unam-se de novo, para que Satanás não os
tente por não terem domínio próprio.”. 1ª Co. 7:5. O texto é riquíssimo, mas
vou usar apenas esta parte dele: ““ Não se recusem um ao outro, exceto por
mútuo consentimento...”.
Em
primeiro lugar, vamos esclarecer algo importantíssimo: não se “recusar um ao
outro” não trata apenas da incidência da relação, ou seja, da agenda sexual,
mas de algo com implicações mais profundas. Diferentemente do que, talvez, a
maioria pense, não se recusa o parceiro apenas quando se diz a ele: “hoje não”,
seja por que motivo for. Esta é apenas a forma mais usual.
Na
verdade, podemos recusar alguém de muitas maneiras, inclusive
inconscientemente. Aliás, podemos recusar um parceiro fazendo sexo com ele!
Recusa é algo que acontece não só nas proibições físicas – “isso não; aqui não;
desse jeito não; não gosto assim;...”, mais também a nível emocional. Neste
segundo caso, o problema é subliminar, pois a resistência fica “presa à alma”, aos
sentimentos, e até ao intelecto.
Mais
há ainda outra frase chave nesta citação de Paulo e nós precisamos explorá-la
melhor: “mútuo consentimento”. Sabe o que significa? Não é tão simples
como talvez pareça. Não trata apenas de concordar sobre local e hora de fazer
sexo, mas de algo muito mais profundo, ou seja, das práticas, dos “acordos”,
dos “jogos” e “brincadeiras” que o casal se permite fazer quanto está neste
nível de intimidade sem que nenhum dos dois se constranja, se sinta
desconfortável, “invadido”, desrespeitado ou desconsiderado.
Então,
usando o texto como uma referência, posso concluir que sexo entre um casal é
algo que é feito sem privação, sem recusas, sem desculpas, sem subterfúgios,
sem mentiras, sem disfarces, sem “véus”, no bom português: sem enrolação! E
posso também arrematar que este sexo é feito de forma consensual, pactual,
prazerosa – uma vez que um busca o que dá mais satisfação ao outro –,
confortável, digna, respeitosa, equilibrada, ou seja, resumindo tudo: sexo é um
encontro profundo de um ser com outro ser.
Posto
isto, ainda que de forma superficial, pois senão o texto ficaria longo demais,
posso agora lhe dizer, de forma bem explícita, quando o sexo é pecado NO
CASAMENTO. Sexo é pecado quando é feito sem desejo, quando um dos cônjuges está
ali pela “obrigação”, apenas para “esvaziar” o desejo retido do outro. Sexo é
pecado quando é feito sem discernimento, de forma animalesca, quando é sexo
pelo sexo, sem que ambos percebam que há algo que está acontecendo para muito
além do físico, da carne, dos instintos.
Sexo
é pecado quando eu o faço com minha mente “vagando” em outros “lugares” ou,
pior, quando ele projeta alguém naquela “cena/ambiente” que ali não está, nem
poderia estar, ou seja, quando faço amor com um (a) e ao mesmo tempo penso em outro
(a). Sexo é pecado quando eu não respeito os “limites” do meu parceiro (a),
quando, egoisticamente, estou em busca apenas do meu prazer, ainda que isto
traga desconforto e até dor a ele (a). Isso quebra a “regra” da consensualidade;
é pecado!
Sexo
é pecado quando eu preciso de recursos periféricos para produzir excitação.
Nestes casos, em particular, quero falar precisamente de vídeos pornográficos.
Esta, inclusive, é uma das práticas mais comuns entre os “evangélicos”. Credo!
O vício na pornografia vai diluindo a alma das pessoas, pois a substância
interior se dissolve e vira uma pasta. Por isso tantas taras, bizarrices,
esquisitices. Se você pudesse escutar o que eu ouço cairia duro! Sexo com o
parceiro e a televisão passando vídeo de sacanagem é pecado!
Sexo
é pecado quando eu não dou prazer ao outro. A coisa mais comum com a qual lido
é ouvir das mulheres que elas jamais tiveram um orgasmo com seus parceiros em
anos de casamento. E o “marmanjão” se achando “o cara”! É pecado! Mostra o
descaso para com o outro, o descuido, a falta de percepção de seu
constrangimento no ato, a falta de maturidade que me leva apenas a buscar meus
15 minutos de prazer em detrimento do outro que está há anos e anos na míngua,
no deserto da excitação, na aridez do gozo. Bem disse Cazuza, é “solidão a
dois”. E mais... É pecado! Lembrei de Lin Yutang: “É a minha
conclusão que no Ocidente se pensa muito no sexo e muito pouco nas mulheres”.
Eu
sei que poderia escrever muito mais, porém acho que este “material” já nos dá
conteúdo suficiente para começarmos uma conversa franca com nosso cônjuge, para
abrimos nosso coração e falarmos do que nos incomoda, do que nos aflige, do que
nos agride, do que gostamos e detestamos. Sem transparência, sem perdão, sem preocupação
sincera com o outro, sem respeito mútuo, jamais seremos felizes na cama com a
pessoa a quem dizemos amar. E creia-me: milhares de separações poderiam ser
evitadas se este tema fosse enfrentado de forma corajosa e verdadeira.
No
mais, meus manos, aguardo os seus comentários! Já coloquei um capacete na
cabeça para agüentar as “pedradas” que virão (risos).... Mas aqui declaro que
falo a verdade, não minto, e faço-o com boa consciência e fé, na certeza plena
de que o que digo pode gerar edificação e crescimento, tanto sexual quanto
emocional e espiritual.
O
que espero, sinceramente, é que você esteja conseguindo levar uma vida sexual
boa, plena, digna, cheia de amor, de paixão, de tesão, de gozo e alegria, pois
este é o padrão das Escrituras e o propósito de Deus. Para os demais, todavia,
é bom ficar "ligado", pois, não raro, o que está mesmo acontecendo é
que você está dormindo com o “inimigo”.
Autor: Carlos
Moreira
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Excelente texto. Todos os casais deveriam ler. Precisamos quebrar paradígmas de falar sobre sexo, pois foi ele definido por Deus para o homem. Ademais é um texto inteligente e gostoso de ler. Deus o abençoe e continue o usando.
ResponderExcluirO desejo do meu coração é que você a uma benção, publicando o que Deus colocar em seu coração, e o meu objectivo é unir mais o cristão a Jesus Cristo, e juntos levarmos a Palavra, sermos edificados e um vaso nas mãos do Grande Oleiro, vamos estabelecer parceria e construirmos juntos uma fortaleza contra as trevas. Um abraço.
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